CAPÍTULO 5

        Você já parou para pensar que o amor é uma droga? Não porque ele nos machuca, nos faz sofrer e faz a alma toda doer às vezes, mas porque ele vicia. O amor é como uma droga, porque deixa todos que o experimentam com dependência. Depois de provar, não tem mais como deixar de sentir vontade. De repente você até consiga ficar por um tempo sem ele, tipo uns 3 minutos enquanto come, mas quando você se levanta para ir largar o prato na pia, você já começa a sentir vontade de tê-lo de novo. Os sintomas são os mesmos que se tem ao consumir crack, maconha e semelhantes. Quando não se pode tocar no amor, e senti-lo invadindo todo o seu ser, você fica ansioso, triste, sem vontade de nada, nervoso. Mas não é ruim ser drogado quando é pelo amor. 
         Quando eu voltei ao apartamento, resolvi conhecer todos os cômodos. Primeiro porque novamente não havia ninguém ali, e segundo, porque como eu já disse, eu me sentia em casa, ainda que nunca tivesse visto tudo o que me rodeava ali. Mas não importa, a sensação foi de pertencer àquilo. Saindo da sala, encontrei um quarto. Quando acendi a luz, eu simplesmente gelei. Havia ali uma estante de livros, e eles estavam organizados da mesma maneira que eu organizo os meus, seguindo uma divisória racional de variação de cores, de maneira que se formem vários degradês, que só são quebrados quando há uma sequência de volumes e eles precisam ficar juntos mesmo não tendo cores parecidas. Ao que tudo indica, esta estante servia como uma cabeceira, porque os livros estavam bem “surrados”, mas guardados com muito carinho, deixando claro que eram lidos frequentemente. Além disso, a sala já era recheada de livros, não teria sentido ter mais no quarto, a não ser que eles fossem lidos todo tempo.
         Não bastasse a organização do mesmo estilo da minha, eu vi uma caixa idêntica à que guardo as cartas e cartões que meus amigos e familiares me enviaram durante toda a vida. Nesse momento, não importou o quão errado pudesse ser mexer nas coisas que não são minhas, eu precisei ver que o que tinha dentro dela não possuía nenhuma relação com tudo que estava guardado dentro da minha.
Lentamente eu caminhei até ela, e com muito cuidado para não estragá-la, puxei a tampa delicadamente. Havia mesmo muitos papéis ali, a maioria dava os ares de cartas, pois estavam dentro de envelopes com selos, mas também tinha um pedaço de pano no fundo da caixa, sendo esmagado por toda a papelada. Retirei todo o papel de cima para poder ver, e não precisou de mais nada para eu entender porque estar ali me parecia tão familiar e porque alguém organizou os livros seguindo a mesma linha sem sentido, ou de maneira totalmente movida pela influência de um toque muito grande. Era porque tudo aquilo pertencia à mim.

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